Contextualizando: eu e Edgard Neto nos conhecemos há mais de dez anos. Ele sempre estimulou as minhas viagens literárias, a articulação das palavras para solidificar ideias. Além do mais, aguçou minha vaidade ao eleger-me musa para sua inspiração (isso deixa qualquer um vaidoso). Eu o conheci por meio de seus poemas; quando me viu, deparou-se em sua imaginação com Olympia de Manet.
Voltando ao caso... Edgard disse que ao ler “Brinde a liberdade”, lembrou-se imediatamente de algo que ele já havia escrito, “let’s dance”. De uma forma interessante, esses dois poemas se encontravam. “Chamou-me a atenção porque teve várias coisas que escrevi que necessitavam de ‘diálogos’ como esse. Sempre quis um diálogo entre dois poemas e nunca obtive êxito. E de repente, sem a menor pretensão, apareceu”, comentou.
Sim, realmente os poemas conversam entre si. É meio sagrado, meio profano. Acho que a intenção era profanar o sagrado e tornar sacro o profano. Outrora, esse era o mote de nossas conversas, principalmente no campo dos desejos e das paixões. Fugindo do maniqueísmo, essa intensidade traz consigo sabores e dissabores.
Edgar vai apresentar os dois poemas num sarau no próximo sábado. Fiquei feliz.
Seguem abaixo os dois textos:
let’s dance
vamos dançar
embriagados pela loucura
amar de várias formas
venerar os nossos corpos
nos adorar como deuses
pois você é minha religião
minha crença
meu ritual pagão
minha heresia cristã
O teu corpo: A catedral
onde habita a minha prece
minha oração
minha súplica, meu destino
Erguerei um Tóten
abrirei os caminhos
ofereço o meu sangue
e minha carne
pela tua
EU TE DESPIREI DO MANTO SAGRADO
embriagados pela loucura
amar de várias formas
venerar os nossos corpos
nos adorar como deuses
pois você é minha religião
minha crença
meu ritual pagão
minha heresia cristã
O teu corpo: A catedral
onde habita a minha prece
minha oração
minha súplica, meu destino
Erguerei um Tóten
abrirei os caminhos
ofereço o meu sangue
e minha carne
pela tua
EU TE DESPIREI DO MANTO SAGRADO
(Edgard Neto)
Brinde a liberdade
Vamos elogiar a loucura,
O elixir da vida vivida,
Sentida no transgredir das regras
E no pulsar da carne
Vamos cear com o profano
Tomar um porre de nós mesmos,
Animais sedentos de vontade
Que mal há?
Desejar o desejo
Respirar a essência
Sem crime ou punição
Liberdade, liberdade, liberdade
De que nos adianta ter
Se o viver nos incomoda?
(Graziane Madureira)
Vamos elogiar a loucura,
O elixir da vida vivida,
Sentida no transgredir das regras
E no pulsar da carne
Vamos cear com o profano
Tomar um porre de nós mesmos,
Animais sedentos de vontade
Que mal há?
Desejar o desejo
Respirar a essência
Sem crime ou punição
Liberdade, liberdade, liberdade
De que nos adianta ter
Se o viver nos incomoda?
(Graziane Madureira)
4 comentários:
Quando escrevi esse poema, propus uma espécie de "ritual"(profano), para que pudesse se comunicar com o leitor e atingi-lo como uma súplica, uma oração. Porém,Ane o mais surpreendente, foi alcançar esse objetivo de forma despretensiosa e até surreal, após ler seu poema e vê-lo "dialogar" com o meu na minha cabeça. Um complemento fabuloso e uma epifania maravilhosa. Muito grato pelas palavras e por compartilhar disso. Eis o verdadeiro sentido da poesia.
Crianças precoces!!!
Pintou um clima aí.Que belíssima declaração de amor!!Um amor de anos,que foi explicitado na escrita,indiretamente.Ah,esse tal de acaso...*__*
Ai que lindo!! Grazi,vcs são (ou já foram namorados), ou só mantêm esse amor platônico? Lindoss!Almas gêmeas!Amei! =)
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