15 de outubro de 2010. 2 horas e 17 minutos da madrugada. Três ligações não atendidas me antecipavam o que temia: “Meu Vô” (como nos chamávamos) tinha acabado de partir.
Temia a chegada desse dia, e sabia que ele fatidicamente chegaria, claro. Para mim, a partida do patriarca dos Madureira marcaria o início da tragédia. Há um ano, reuniram-se pela última vez todos os filhos, os netos e os bisnetos. Juntos, choramos sua partida e celebramos sua vida.
Não sei explicar a dor que ainda sinto ao lembrar-me dele. Nutria uma admiração imensa e ele sempre será uma referência para mim: de alegria, desprendimento, bondade e amor.
Vovô era um bon vivant: musical, boêmio, namorador (adjetivo doloroso para Vovó). Toda vez que eu o reencontrava era uma festa. Eu me colocava ao seu lado, ele pegava o violão e começava a cantoria:
“Que beijinho doce
Foi ela quem trouxe
De longe pra mim
Se me abraça apertado
Suspira dobrado
Que amor sem fim”
Foi ela quem trouxe
De longe pra mim
Se me abraça apertado
Suspira dobrado
Que amor sem fim”
Depois que “Meu Vô” nos deixou, nunca mais consegui ouvi as musicas que ele tocava. São tantas histórias com trilha sonora. São tantas lembranças, tantos episódios marcantes. Minhas férias eram muito mais coloridas e muito mais doces ao lado dele e de seus saquinhos surpresas de balas e bombons. Algo singelo e mágico. Não precisava dos adoráveis personagens de histórias infantis, já tinha a minha própria fábula.
A proximidade dessa data não me fez bem. Busquei esconder essa tristeza focando outra coisa; não deu certo. Só fez aumentar minha inquietude e intensidade. Hoje, meu coração começa a se aquietar. A saudade continua, pois pessoas especiais se tornam eternas. Porém, a tristeza não as enaltecem e não faz bem.
No velório de “Meu Vô”, eu não consegui me despedi, mesmo com a insistência de minha mãe. Pela primeira vez tive que lidar com a morte de alguém tão próximo. Infelizmente, terei que aprender.
Com um ano de atraso, aqui vai a minha despedida. Faço-a publicamente, pois quero acreditar que se contar para muita gente, talvez ele “escute”.
Ah saudade...
“Meu Vô”
Mais que lembranças
Ficaram referências
Sei que cometeu erros:
como ser humano,
como esposo...
Quis amar demais,
ter prazeres demais...
Cabe a mim julgar? Não!
Só que como neta,
aos meus olhos, foi irretocável
Recebi carinho,
retribui carinho
Assim, ao teu lado fui feliz
Isso basta
Então,
Até mais, “gavião malvado”.
Mais que lembranças
Ficaram referências
Sei que cometeu erros:
como ser humano,
como esposo...
Quis amar demais,
ter prazeres demais...
Cabe a mim julgar? Não!
Só que como neta,
aos meus olhos, foi irretocável
Recebi carinho,
retribui carinho
Assim, ao teu lado fui feliz
Isso basta
Então,
Até mais, “gavião malvado”.
2 comentários:
Eis uma lição que, embora dolorosa, todos tem que aprender a assimilar algum dia. E, mesmo sendo algo certo, é impossível não sentirmos a dor de um momento assim. Não há "treino" no mundo que nos ensine a lidar com a parda de alguém que a gente ama.
Já perdi pessoas próximas também, e embora sinta que hoje a dor não me consome mais com a intensidade de antes, sei que há um vazio em meu peito que dificilmente será preenchido. A gente aprende a conviver com esta ausência, mas superá-la nem sempre é possível.
Lindo texto, moça. Uma bonita homenagem a uma figura que, por tudo que relatou, estará sempre presente no seu coração.
Abraço.
Hei Zé Luiz, realmente, acho que jamais aprenderemos a lidar com esse assunto... Quando eu era criança ficava indagando sobre o que aconteceria se a morte "tirasse férias". Saramago, por quem sou apaixonada, conseguiu traçar um bom panorama para essa hipótese.
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