sexta-feira, 23 de setembro de 2011

“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura”

Hoje uma amiga me linkou uma foto do Nelson Rodrigues no facebook. Realmente, quem me conhece um pouco, sabe o quanto sou fã da obra do Nelson (é certo que temos divergências políticas... nada é perfeito). Para mim, ele é um gênio; soube como ninguém desvendar a natureza humana, com suas taras, demônios, hipocrisias, “moral”, fantasias e tragédias.

De certa forma, a tragédia foi uma visita assídua em sua família. Viu seu irmão ser assassinado na redação e seu pai morrer de tristeza meses depois. Passou por necessidades financeiras; e com a tuberculose, parte de sua juventude ficou nos sanatórios. Começou sua carreira jornalista no jornal do pai, na seção policial, aos treze anos. Ali, relatou crimes passionais e pactos de morte entre casais apaixonados, histórias que utilizaria em suas crônicas futuras.

Como próprio se definia, Nelson era um menino que via o amor pelo buraco da fechadura. “Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico”, dizia. Se para muitos, fora um pervertido que só escrevia pornografias, para mim, é um revolucionário que expôs os conflitos psíquico, religioso, político e moral da sociedade.

Com ele aprendi que se passam mais coisas entre os muros da intimidade, do que possa supor nossa imaginação. Com ele, vi uma realidade nua e crua, lasciva, sem fantasias ou adornos. Enfim, vi a vida como ela é. Nelson, ou o Anjo Pornográfico, morreu em 1980, aos 68 anos.  Ainda faltavam quatro anos para eu nascer; ainda faltavam 16 anos para eu o descobrir.

Escrevendo sobre ele me veio a lembrança de um colega de faculdade, do qual era caloura. Ele sempre me chamava pelo nome dos muitos personagens nelsonrodrigueanos (não irei revelar qual). Até hoje não sei se encaro isso como um elogio ou uma provocação. Para meu colega era um elogio. Prefiro assim, gosto dessa hipótese.


OBS: Quem quiser conhecer um pouco mais da vida desse grande dramaturgo, jornalista e cronista brasileiro, indico o livro “Anjo Pornográfico”, de Ruy Castro.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Desejar o desejo

Afortunado aquele que sabe desejar
Acreditem, isso é uma sabedoria

É certo que o desejo é efêmero
Mas, nos impulsiona
Faz-nos olhar para uma direção
Ter vontade, potência
Faz-nos crer que a felicidade até existe
E de fato existe!!!

É certo que o desejo também é frustrante
Alimenta a obsessão
Deixa-nos enfermos e impotentes:
Por não se ter concretizado
Por se ter dissipado
Ou até, por se ter realizado

E como é bom desejar
Saber o que se quer
Sem temer os percalços do caminho

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Não se fazem mais mulheres como antigamente

Homens e mulheres não falam a mesma língua, nem mesmo corporal. Muitos pensam que nossas conversas se resumem a sapato, roupa, a nova coleção de esmalte ou o creme que irá fazer uma maravilha facial... Até falamos sobre isso, mas o assunto que sempre nos deixa mais “animadinhas” são os homens (cônjuge, namorado, peguete, ficante, belisca, não peguei mas tô interessado... – definições descaradamente roubadas de outra mente criativa). Quando se mistura uma (ou cinco garrafas de vinho) então, só Jesus na causa.

Pois bem, no muro dos desejos e das lamentações, apresento a história de Lucilda.

Lucilda, jovem dos seus trinta anos (hoje aos trinta anos ainda se é jovem e, a depender das interferências cirúrgicas e dos mililitros de botox, pode-se querer ser jovem até aos sessenta), cheia de volúpia e vontade de se “arrumar” na vida com algum gajo garboso. Ela nunca pediu muito: queria apenas alguém interessante, inteligente, cavalheiro (porque estava cansada dos cafajestes), bem resolvido, hétero... Nada de muitas exigências.

Um dia disse para ela rezar para Nossa Senhora das Almas, às seis da tarde. É nessa hora que os anjos passavam e dizem amém. Não é que deu certo. Melhor que Santo Antônio.

E finalmente Lucilda encontrou quem procurava. Um rapaz lindo, charmoso, atencioso, carinhoso... Era tantos “osos” que dava até nojo... Enfim, no primeiro encontro, ela foi meticulosa. Arrumou-se de uma forma clássica e sensual, queria que ele a desejasse, mas sem parecer oferecida. Pelas palavras de Lulu, a noite foi linda. Ele a levou a um jantar a luz de velas, puxou a cadeira, elogiou o seu cabelo, o quanto ficava encantadora sob meia luz... Conversaram, beberam, riram e foram para casa, cada um para a sua... Um romance à moda antiga, com a troca de olhares, a sensualidade ao segurar uma taça de vinho e um singelo beijo de despedida.

Pronto, Lucilda voltou em êxtase. “Dessa vez é para valer”, dizia....

Então, veio o segundo encontro, o terceiro e o mesmo romantismo e delicadeza. “Nossa, ele é tão cortês, tão cortês que já tá me dando angustia. Ontem, me vesti toda bem intencionada, cheia de amor para dar, mas, fui dormir completamente arrumada”, reclamou após o quarto encontro. No quinto, Lucilda prometeu a si mesma que o dito cujo não escaparia: colocou um vestido provocante, escolheu um lugar caliente. Imaginava que um pouco de iguarias latinas ajudaria a criatura a entender que ela estava era para brincadeira.

“Ah, cavalheirismo demais tem limites. Eu aqui toda me querendo e ele nesse rame-rame, sem nem tentar levantar meu vestido para eu poder fazer charme e fingir que sou moça de família. Que que há?. Eu quero é fogo pra tacar na gasolina”, desabafou indignada.

Não deu outra, o caldo desandou. O encanto se quebrou.

Perguntei para ela o porquê, no que me respondeu sabiamente: “Uma coisa é fato. A mulher sonha com um homem cavalheiro, mas quer sentir a pegada máscula desde o início. Não tem que mudar os papeis. Ao homem cabe tentar, e a mulher resistir... pelo menos até certo ponto. Não se deve mexer nessas convenções”.

É, o mundo mudou. As mulheres mudaram e querem mais que flores e mãozinhas dadas. 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Brinde a liberdade


Vamos elogiar a loucura,
O elixir da vida vivida,
Sentida no transgredir das regras
E no pulsar da carne

Vamos cear com o profano
Tomar um porre de nós mesmos,
Animais sedentos de vontade
Que mal há?

Desejar o desejo
Respirar a essência
Sem crime ou punição

Liberdade, liberdade, liberdade
De que nos adianta ter
Se o viver nos incomoda?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A angustiante incerteza do ser

Semana passada, deparei-me com uma angustia profunda, um vazio existencial enorme, aparentemente sem explicação, ou com motivos insuficientes. Isso me fez lembrar uma música do também baiano Raul Seixas, “Ouro de tolo”.

De fato, “eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável, e ganho quatro mil cruzeiros por mês”... Hoje posso dizer que já realizei grande parte do que sonhei quando era adolescente, estudante. Meu caminho está sendo trilhado conforme planejei. Sabia que fazia parte da minha escolha deixar muito para traz: pai, mãe, irmãos, amigos, amores.  São escolhas que fazemos e, conforme a terceira lei de Newton, pra toda ação há uma reação.

Eu realmente preciso de mais para sobreviver; um mais imaterial; um mais existencial... um mais que eu não sei o que é. Entretanto, vou descobrir.

São os desafios que movem os homens e possibilitam a criação, seja ela qual for. Para quem sempre foi inquieta, se deparar num estado de inércia é realmente angustiante. Sei que “devia estar sorrindo e orgulhoso por ter finalmente vencido na vida, mas eu acho isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa”.

domingo, 18 de setembro de 2011

Woody Allen me entende

Tenho certo fascínio por Woody Allen. Não apenas por seus filmes, por suas histórias (adoro histórias do cotidiano, as mais improváveis)... Alguns gênios me transportam para o mundo deles, e de forma meio contraditória me libertam da minha própria realidade, fazendo-me vê-la com mais clareza.

Para mim, Woody Allen é um remédio que me cura de todos os males. Recorro-me a ele sempre, na alegria, na tristeza, na saúde e na doença. E sempre me faz bem. De uma forma surreal, comungo com ele.

Revi um de seus filmes hoje, “Anything Else” (não é um dos seus melhores). Nele Allen apresenta dois argumentos bastante peculiares. O primeiro é sobre terapia. É um posição interessante: muitas vezes, as coisas não tem um porquê, uma origem ou sentido ou uma resposta metafísica. Elas existem simplesmente.

Vou reproduzir o referido diálogo:


“Allen: Escolheu a psicanálise em vez da vida real? Tem problemas de aprendizagem?


Jason Biggs:  Obviamente, não está familiarizado com a psicanálise.


Allen: Errado. Estou totalmente familiarizado. Estelionatários similares tentaram de me enrolar em Payne Whitney.


Jason Biggs: Esteve em Payne Whitney?


Allen: Sim. Um manicômio. Estive no pavilhão psiquiátrico por seis meses, umas férias que não lembro com grande nostalgia. Mas eu era violento. É por essa razão que te colocam em uma camisa de força.


Jason Biggs: O que aconteceu? Por que esteve lá?


Allen: Terminei com uma garota e me indicaram um psiquiatra que disse: "Por que você se deprimiu tanto e fez tudo o que fez?".
Eu disse: "Queria essa garota e ela me deixou".
E ele me disse: "Bem, temos que analisar isso".
Respondi: "Não temos que analisar nada! Eu a queria e ela me deixou".
E ele disse: "Por que tem sentimentos tão intensos?".
Eu disse: "Porque quero a garota!".
Ele disse: "O que há por trás disso?".
Eu disse: "Nada!".
Ele disse: "Tenho que te medicar".
Eu disse: "Não quero medicação! Quero a garota!".
E ele disse: "Temos que trabalhar isso".
Peguei um extintor e o acertei na nuca.
Antes de que me desse conta, uns caras da companhia elétrica  tinham colocado fios de arame na minha cabeça e o resto foi...”

Enfim, identifico-me na sua paranóia, sua obra me compreende. Meio esquisito ou até maluco dizer isso, entretanto consigo dialogar mais com alguns autores e suas obras do que com gente. É assim também com Nelson Rodrigues e com Saramago. A psicologia deve ter um conceito.



Ah, em tempo. Segundo argumento apresentado por Woody Allen: “muita rejeição causa câncer”.

Os corpos

A aurora revelava a lascividade dos atos
Uma junção de cheiro, odor e prazer
Refestelado num banquete
Na simbiose necessária entre os corpos

Já não eram mais dois
O desejo se deliciava
As normas eram os instintos
A conduta, a busca pelo sublime
E a moral, a transcendência  do prazer  !!!

(Graziane Madureira)

Uma ode ao interesse

 Fiz esse texto aos 17 anos para uma aula de filosofia, há uma vida...
Se fosse escrever sobre esse mesmo tema hoje, colocaria coisas diferentes; aprimoraria o discurso.
Mas, esses textos antigos são bons para podermos refletir sobre a nossa própria mutação.



Uma ode ao interesse

Você já parou para pensar no teor de suas relações? Falo aqui de qualquer tipo de relação estabelecida entre os homens. Pois bem, eu pensei! E infelizmente concebi o resultado: os principais dogmas da humanidade: o amor, a fé, a família... só existem no campo hipotético; todas as relações se dão por puro interesse.

Quero deixar claro que a noção de interesse que aqui estabeleço vai além do âmbito material, embora, muitas vezes, este sentido acaba por se tornar na conseqüência do interesse construído no “psikê”.

Não é de minha pretensão negativisar a existência. Mas, não se iluda: qualquer atividade, inclusive aquela de ajudar a um cego atravessar a rua, é banhada por segundas intenções. Esta relação é tão normal que não necessita de nenhum esforço para surgir: nasce instantaneamente do subconsciente, e por nos acharmos imáculos, para além do bem e do mal, só a constatamos, ou queremos constatar, materialmente.

Começarei minha argumentação tomando por base a instituição caracterizada por sua “solidez”, a família. A família nasce da união dos interesses de duas pessoas: os filhos, frutos dessa união, são meros instrumentos. Como não somos gatos, concebemos os filhos com o interesse de projetarmos neles nossos desejos frustrados pelos desejos de nossos pais. Pobrezinhos! Já nascem enraizados num ciclo vicioso. Família unida é sinônimo de que os interesses ainda são comumente compartilhados, ou pelo menos suportados.

Na fé (religiosa) encontramos o grotesco. Desmitifique sua noção de que o indivíduo CRÊ, TENTA seguir uma doutrina religiosa puramente para aproximar-se de “Deus”. O que eles realmente desejam é fugir do purgatório. Como as questões sobre a existência de um “Deus” não são concretas, os homens se apegam às formulações criadas pelos próprios homens por puro medo do desconhecido.

O amor? Ah, este não necessita de tanto latim. Nunca entendi por que os pais eram maltratados pelos filhos quando deixavam de ganhar a matéria que rege a saciedade. As pessoas só amam quando tem o porquê de amar, são aves de rapina que só sabem sugar, sugar e sugar.

Em tudo que olho encontro segundas intenções. Não pense que estas palavras que proferi são diferentes...

Continuando, é possível concluí que a política é tornou-se uma instituição onde é mais “confiável” qualquer relação. Pode parecer surreal, mais é digno de reflexão: na política as pessoas se integram conscientes da relação entre cobras que ali se estabelece. Apesar de não saber sobre o que o outro matuta, o indivíduo presente, primordialmente, já tomou consciência que nesse meio os outros sempre estão planejando algo, enquanto que nas demais relações, as pessoas se inserem sem nenhuma defesa, pois acreditam na pureza da alma humana.

Não quero dar um tom paranóico ao discurso, mas, de vez em quando, lembre-se de desconfiar daqueles que te rodeiam, independentemente do grau de afeto estabelecido, pois o homem está sempre interessado em obter vantagem. Nenhum ato é inteiramente puro, nem complemente sujo. O Bem e o Mal não trilham caminhos distintos; habitam em um único espaço: a mente humana.