quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Viva o Rei do Baião!!!

Ontem Luiz Gonzaga completaria 99 anos. Esse grande artista brasileiro, nordestino e pernambucano, levou o forró e o baião para todo o país. Cantou alegrias, tristezas, injustiças e o cotidiano do sertão nordestino.

Luiz Gonzaga aprendeu com seu pai, Januário, a tocar acordeão e logo passou a se apresentar em bailes, forrós e feiras. Aos 18 anos, entrou para o Exército e pode conhecer vários estados brasileiros. Nove anos depois, saiu das forças armadas para se dedicar à música, no Rio de Janeiro.

No começo, como instrumentista, seu repertório era composto por músicas estrangeiras. Apresentava-se em programas de calouros de paletó e gravata. Em 1941, ao participar do programa de Ary Barroso, fez sucesso com uma música de sua autoria, “Vira e Mexe”, de tema regional.

Contratado pela Radio Nacional, conheceu o acordeonista gaúcho Pedro Raimundo, de quem veio a inspiração de apresentar-se vestido de vaqueiro, traje que se tornou característico do artista.

Gonzagão era doido pelo ritmo que ajudou a popularizar: o baião.  Levou essa paixão para suas músicas.

“Eu já dancei balance,
Xamego, samba e xerém
Mas o baião tem um quê
Que as outras dancas não têm
Oi quem quiser é só dizer
Pois eu com satisfação
Vou dançar cantando o baião”


Cresci ouvindo Luiz Gonzaga com meu pai, que colocava um de seus discos (cheguei a pegar essa época) no som de casa. Aprendi desde muito cedo a respeitar o seu “fole prateado, com cento e vinte de baixo”. Mais tarde, foca do jornalista Wilson Midlej, o conhecimento e admiração só se aprofundaram. Nossos expedientes e viagens de trabalho tinham Luiz Gonzaga como trilha sonora. MIdlej conheceu Luiz Gonzaga pessoalmente e relatava de forma muito encantadora, como sempre faz, as histórias desse encontro.  

Para os nordestinos, que sentem na alma a vibração dos festejos juninos, Gonzagão é um rei, o Rei do Baião. Comecei a dançar forró com as músicas dele. Para falar a verdade, não me lembro de nenhuma festa junina sem Luiz Gonzaga. Para mim, chegam a ser sinônimos. 


"Vixi como eu tô feliz, olha só como eu tô pago
Nunca mais eu vô perder o forrozão lá do Zé Nabo
Vixi como eu tô feliz, olha só como eu tô pago
Nunca mais eu vô perder o forrozão lá do Zé Nabo"

Suas canções são de uma beleza impressionante. Tocam a alma do sertanejo e nunca envelhecem. Como não se divertir com a música “Respeita Januário” ou se emocionar com os versos de “A volta da asa branca”:

“A seca fez eu desertar da minha terra
Mas felizmente Deus agora se alembrou
De mandar chuva
Pr'esse sertão sofredor
Sertão das muié séria
Dos homes trabaiador”

No dia 2 de agosto de 1989, os brasileiros olharam para céu e viu um balão multicor sumindo. Morria o Rei do Baião, vítima de parada cardiorrespiratória. E choveu lágrimas no nordeste.



sábado, 15 de outubro de 2011

Ah saudade...

Alerta aos leitores: isso é uma confissão, um desabafo. Se não se interessam por algo pessoal, sugiro que parem aqui.


15 de outubro de 2010. 2 horas e 17 minutos da madrugada. Três ligações não atendidas me antecipavam o que temia: “Meu Vô” (como nos chamávamos) tinha acabado de partir.

Temia a chegada desse dia, e sabia que ele fatidicamente chegaria, claro. Para mim, a partida do patriarca dos Madureira marcaria o início da tragédia. Há um ano, reuniram-se pela última vez todos os filhos, os netos e os bisnetos. Juntos, choramos sua partida e celebramos sua vida. 

Não sei explicar a dor que ainda sinto ao lembrar-me dele. Nutria uma admiração imensa e ele sempre será uma referência para mim: de alegria, desprendimento, bondade e amor.

Vovô era um bon vivant: musical, boêmio, namorador (adjetivo doloroso para Vovó). Toda vez que eu o reencontrava era uma festa. Eu me colocava ao seu lado, ele pegava o violão e começava a cantoria:

“Que beijinho doce
Foi ela quem trouxe
De longe pra mim
Se me abraça apertado
Suspira dobrado
Que amor sem fim”

Depois que “Meu Vô” nos deixou, nunca mais consegui ouvi as musicas que ele tocava. São tantas histórias com trilha sonora. São tantas lembranças, tantos episódios marcantes. Minhas férias eram muito mais coloridas e muito mais doces ao lado dele e de seus saquinhos surpresas de balas e bombons. Algo singelo e mágico. Não precisava dos adoráveis personagens de histórias infantis, já tinha a minha própria fábula.

A proximidade dessa data não me fez bem. Busquei esconder essa tristeza focando outra coisa; não deu certo. Só fez aumentar minha inquietude e intensidade. Hoje, meu coração começa a se aquietar. A saudade continua, pois pessoas especiais se tornam eternas. Porém, a tristeza não as enaltecem e não faz bem.

No velório de “Meu Vô”, eu não consegui me despedi, mesmo com a insistência de minha mãe. Pela primeira vez tive que lidar com a morte de alguém tão próximo. Infelizmente, terei que aprender.

Com um ano de atraso, aqui vai a minha despedida. Faço-a publicamente, pois quero acreditar que se contar para muita gente, talvez ele “escute”.



Ah saudade...

“Meu Vô”
Mais que lembranças
Ficaram referências

Sei que cometeu erros:
como ser humano,
como esposo...
Quis amar demais,
ter prazeres demais...
Cabe a mim julgar? Não!

Só que como neta,
aos meus olhos, foi irretocável
Recebi carinho,
retribui carinho
Assim, ao teu lado fui feliz
Isso basta

Então,
Até mais, “gavião malvado”.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Diálogo entre versos

Hoje uma pessoa muito querida me chamou para um café a fim de comentar sobre o que ando escrevendo neste espaço, mais precisamente para comentar sobre um poema que escrevi.

Contextualizando: eu e Edgard Neto nos conhecemos há mais de dez anos. Ele sempre estimulou as minhas viagens literárias, a articulação das palavras para solidificar ideias. Além do mais, aguçou minha vaidade ao eleger-me musa para sua inspiração (isso deixa qualquer um vaidoso). Eu o conheci por meio de seus poemas; quando me viu, deparou-se em sua imaginação com Olympia de Manet.

Voltando ao caso...  Edgard disse que ao ler “Brinde a liberdade”, lembrou-se imediatamente de algo que ele já havia escrito, “let’s dance”. De uma forma interessante, esses dois poemas se encontravam. “Chamou-me a atenção porque teve várias coisas que escrevi que necessitavam de ‘diálogos’ como esse. Sempre quis um diálogo entre dois poemas e nunca obtive êxito. E de repente, sem a menor pretensão, apareceu”, comentou.

Sim, realmente os poemas conversam entre si. É meio sagrado, meio profano. Acho que a intenção era profanar o sagrado e tornar sacro o profano. Outrora, esse era o mote de nossas conversas, principalmente no campo dos desejos e das paixões. Fugindo do maniqueísmo, essa intensidade traz consigo sabores e dissabores.

Edgar vai apresentar os dois poemas num sarau no próximo sábado.  Fiquei feliz.

Seguem abaixo os dois textos:

 
let’s dance

vamos dançar
embriagados pela loucura
amar de várias formas
venerar os nossos corpos
nos adorar como deuses
pois você é minha religião
minha crença
meu ritual pagão
minha heresia cristã
O teu corpo: A catedral
onde habita a minha prece
minha oração
minha súplica, meu destino
Erguerei um Tóten
abrirei os caminhos
ofereço o meu sangue
e minha carne
pela tua
EU TE DESPIREI DO MANTO SAGRADO

(Edgard Neto)



Brinde a liberdade

Vamos elogiar a loucura,
O elixir da vida vivida,
Sentida no transgredir das regras
E no pulsar da carne

Vamos cear com o profano
Tomar um porre de nós mesmos,
Animais sedentos de vontade
Que mal há?

Desejar o desejo
Respirar a essência
Sem crime ou punição

Liberdade, liberdade, liberdade
De que nos adianta ter
Se o viver nos incomoda?

(Graziane Madureira)

domingo, 9 de outubro de 2011

Para além de um embarque

Aline sempre teve inveja das viagens de sua amiga Zuzu, para quem andar de avião era igual a uma comédia romântica hollywoodiana. A cada decolada, era um novo love story nas alturas. Sempre conhecia alguém bonito, inteligente, rico, sarado, estrangeiro, tarado... todos interessantes. Nas cadeiras das aeronaves já arranjou namorado, amante, ficante, parceiro sexual e até noivo. A mulher já pegou alguém até na fila de visto da embaixada americana. Era ou não era de causar inveja?

Aline, por sua vez, era uma fracassada nesse quesito. Apesar de ser apaixonada e feliz com o seu namorido, devaneava com possíveis flertes ocasionais. Porém, nunca teve um companheiro de viagem que prestasse, e olha que sua profissão de representante comercial lhe exigia deslocamentos semanais. Ao seu lado, só sentavam os da terceira e primeira idades, neuróticos, gays, mulheres ou fracassados. Roncava, perturbava, tagarelava ou rezava. Era uma das primeiras a procurar o assento, vestia-se com primor e torcia para que Nossa Senhora do Parto lhe desse uma boa hora; nada adiantava. Sua sina.

Mesmo com os perrengues, Aline não desistiria: um dia ainda iria flertar com seu colega de assento.  Era questão de honra.

Aline x Zuzu: a antítese

Última viagem de Zuzu: retorno do Rio de Janeiro, depois de um fim de semana amargurado com agora seu ex. Fora até a cidade maravilhosa para que seu príncipe nórdico a trocasse por uma poposuda preparada do funk. Aquilo doeu. Embarcou em frangalhos. Todavia, seu sofrimento durou exatos 2h:30min de vôo, tempo suficiente para um arquiteto, de mudança para a cidade dela, sentasse ao lado. Desembarcou com um convite para jantar no dia seguinte e sem se lembrar do falecido 

Última viagem de Aline: retorno de uma bem sucedida reunião de trabalho. Avião lotado; senta-se entre um garoto trabalhado na traquinagem e uma senhora banhada pelo perfume falsificado mais vagabundo da 25 de Março. O guri derramou refrigerante em sua roupa, desfiou sua meia e ainda lhe machucou o pé com aqueles malditos tênis com rodinha (Deveriam ser presos os inventores de certas porcarias). Desembarcou com renite atacada, manca e decidida a não procriar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Porque eu sei que é amor

Ontem estava ouvindo uma música do Titãs e um trecho da letra me fez refletir. “Porque eu sei que é amor, eu não peço nada em troca; porque eu sei que é amor, eu não peço nenhuma prova”. Será?

São versos com certo impacto retórico. Entretanto, não concordo inteiramente com eles. Seja por experiência própria, alheia ou literária, o amor pede sim provas.  Essa história de que “eu amo por nós dois” e “eu te amo e isso basta” para mim é pura enganação do eu e do outro. Quem ama quer ter provas de amor sim; quer ter o sentimento retribuído; quer saber que aquela pessoa amada sente algo pelo menos parecido.

Só aqueles que amam sabem a importância de receber, sem mais nem porquê, uma mensagem do amado no meio de um dia tumultuado. Um simples “oi” é suficiente para lhe fazer suspirar. Qualquer ser humano embevecido no amor, tem necessidade de se sentir querido, desejado.  São “provas” essenciais.

Há coisas que só ganham sentido quando se concretizam. Não há nenhum glamour em amar sozinho, em se apaixonar sozinho. É triste, cruel, dói e abre margem para bebedeiras, melancolia e besteiras. Sim, besteiras, porque mais “idiota” que amar, é a pessoa que ama sozinha. É cada coisa que fazemos para ser notado.

Enfim, mesmo assim, é muito bom se apaixonar, amar. Sofrer é uma conseqüência do risco. Sempre vai haver decepções de uma das partes, ou das duas. A balança nunca está em harmonia. Por tudo isso, reafirmo: mesmo sabendo que é amor, é preciso provas. Mais que amamos, queremos também ser amados.

Uma amiga discorda dessa opinião e diz que daqui a alguns anos vou descobrir que “sim, a gente consegue amar sem pedir provas... mas, só daqui a alguns anos".

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura”

Hoje uma amiga me linkou uma foto do Nelson Rodrigues no facebook. Realmente, quem me conhece um pouco, sabe o quanto sou fã da obra do Nelson (é certo que temos divergências políticas... nada é perfeito). Para mim, ele é um gênio; soube como ninguém desvendar a natureza humana, com suas taras, demônios, hipocrisias, “moral”, fantasias e tragédias.

De certa forma, a tragédia foi uma visita assídua em sua família. Viu seu irmão ser assassinado na redação e seu pai morrer de tristeza meses depois. Passou por necessidades financeiras; e com a tuberculose, parte de sua juventude ficou nos sanatórios. Começou sua carreira jornalista no jornal do pai, na seção policial, aos treze anos. Ali, relatou crimes passionais e pactos de morte entre casais apaixonados, histórias que utilizaria em suas crônicas futuras.

Como próprio se definia, Nelson era um menino que via o amor pelo buraco da fechadura. “Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico”, dizia. Se para muitos, fora um pervertido que só escrevia pornografias, para mim, é um revolucionário que expôs os conflitos psíquico, religioso, político e moral da sociedade.

Com ele aprendi que se passam mais coisas entre os muros da intimidade, do que possa supor nossa imaginação. Com ele, vi uma realidade nua e crua, lasciva, sem fantasias ou adornos. Enfim, vi a vida como ela é. Nelson, ou o Anjo Pornográfico, morreu em 1980, aos 68 anos.  Ainda faltavam quatro anos para eu nascer; ainda faltavam 16 anos para eu o descobrir.

Escrevendo sobre ele me veio a lembrança de um colega de faculdade, do qual era caloura. Ele sempre me chamava pelo nome dos muitos personagens nelsonrodrigueanos (não irei revelar qual). Até hoje não sei se encaro isso como um elogio ou uma provocação. Para meu colega era um elogio. Prefiro assim, gosto dessa hipótese.


OBS: Quem quiser conhecer um pouco mais da vida desse grande dramaturgo, jornalista e cronista brasileiro, indico o livro “Anjo Pornográfico”, de Ruy Castro.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Desejar o desejo

Afortunado aquele que sabe desejar
Acreditem, isso é uma sabedoria

É certo que o desejo é efêmero
Mas, nos impulsiona
Faz-nos olhar para uma direção
Ter vontade, potência
Faz-nos crer que a felicidade até existe
E de fato existe!!!

É certo que o desejo também é frustrante
Alimenta a obsessão
Deixa-nos enfermos e impotentes:
Por não se ter concretizado
Por se ter dissipado
Ou até, por se ter realizado

E como é bom desejar
Saber o que se quer
Sem temer os percalços do caminho

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Não se fazem mais mulheres como antigamente

Homens e mulheres não falam a mesma língua, nem mesmo corporal. Muitos pensam que nossas conversas se resumem a sapato, roupa, a nova coleção de esmalte ou o creme que irá fazer uma maravilha facial... Até falamos sobre isso, mas o assunto que sempre nos deixa mais “animadinhas” são os homens (cônjuge, namorado, peguete, ficante, belisca, não peguei mas tô interessado... – definições descaradamente roubadas de outra mente criativa). Quando se mistura uma (ou cinco garrafas de vinho) então, só Jesus na causa.

Pois bem, no muro dos desejos e das lamentações, apresento a história de Lucilda.

Lucilda, jovem dos seus trinta anos (hoje aos trinta anos ainda se é jovem e, a depender das interferências cirúrgicas e dos mililitros de botox, pode-se querer ser jovem até aos sessenta), cheia de volúpia e vontade de se “arrumar” na vida com algum gajo garboso. Ela nunca pediu muito: queria apenas alguém interessante, inteligente, cavalheiro (porque estava cansada dos cafajestes), bem resolvido, hétero... Nada de muitas exigências.

Um dia disse para ela rezar para Nossa Senhora das Almas, às seis da tarde. É nessa hora que os anjos passavam e dizem amém. Não é que deu certo. Melhor que Santo Antônio.

E finalmente Lucilda encontrou quem procurava. Um rapaz lindo, charmoso, atencioso, carinhoso... Era tantos “osos” que dava até nojo... Enfim, no primeiro encontro, ela foi meticulosa. Arrumou-se de uma forma clássica e sensual, queria que ele a desejasse, mas sem parecer oferecida. Pelas palavras de Lulu, a noite foi linda. Ele a levou a um jantar a luz de velas, puxou a cadeira, elogiou o seu cabelo, o quanto ficava encantadora sob meia luz... Conversaram, beberam, riram e foram para casa, cada um para a sua... Um romance à moda antiga, com a troca de olhares, a sensualidade ao segurar uma taça de vinho e um singelo beijo de despedida.

Pronto, Lucilda voltou em êxtase. “Dessa vez é para valer”, dizia....

Então, veio o segundo encontro, o terceiro e o mesmo romantismo e delicadeza. “Nossa, ele é tão cortês, tão cortês que já tá me dando angustia. Ontem, me vesti toda bem intencionada, cheia de amor para dar, mas, fui dormir completamente arrumada”, reclamou após o quarto encontro. No quinto, Lucilda prometeu a si mesma que o dito cujo não escaparia: colocou um vestido provocante, escolheu um lugar caliente. Imaginava que um pouco de iguarias latinas ajudaria a criatura a entender que ela estava era para brincadeira.

“Ah, cavalheirismo demais tem limites. Eu aqui toda me querendo e ele nesse rame-rame, sem nem tentar levantar meu vestido para eu poder fazer charme e fingir que sou moça de família. Que que há?. Eu quero é fogo pra tacar na gasolina”, desabafou indignada.

Não deu outra, o caldo desandou. O encanto se quebrou.

Perguntei para ela o porquê, no que me respondeu sabiamente: “Uma coisa é fato. A mulher sonha com um homem cavalheiro, mas quer sentir a pegada máscula desde o início. Não tem que mudar os papeis. Ao homem cabe tentar, e a mulher resistir... pelo menos até certo ponto. Não se deve mexer nessas convenções”.

É, o mundo mudou. As mulheres mudaram e querem mais que flores e mãozinhas dadas. 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Brinde a liberdade


Vamos elogiar a loucura,
O elixir da vida vivida,
Sentida no transgredir das regras
E no pulsar da carne

Vamos cear com o profano
Tomar um porre de nós mesmos,
Animais sedentos de vontade
Que mal há?

Desejar o desejo
Respirar a essência
Sem crime ou punição

Liberdade, liberdade, liberdade
De que nos adianta ter
Se o viver nos incomoda?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A angustiante incerteza do ser

Semana passada, deparei-me com uma angustia profunda, um vazio existencial enorme, aparentemente sem explicação, ou com motivos insuficientes. Isso me fez lembrar uma música do também baiano Raul Seixas, “Ouro de tolo”.

De fato, “eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável, e ganho quatro mil cruzeiros por mês”... Hoje posso dizer que já realizei grande parte do que sonhei quando era adolescente, estudante. Meu caminho está sendo trilhado conforme planejei. Sabia que fazia parte da minha escolha deixar muito para traz: pai, mãe, irmãos, amigos, amores.  São escolhas que fazemos e, conforme a terceira lei de Newton, pra toda ação há uma reação.

Eu realmente preciso de mais para sobreviver; um mais imaterial; um mais existencial... um mais que eu não sei o que é. Entretanto, vou descobrir.

São os desafios que movem os homens e possibilitam a criação, seja ela qual for. Para quem sempre foi inquieta, se deparar num estado de inércia é realmente angustiante. Sei que “devia estar sorrindo e orgulhoso por ter finalmente vencido na vida, mas eu acho isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa”.

domingo, 18 de setembro de 2011

Woody Allen me entende

Tenho certo fascínio por Woody Allen. Não apenas por seus filmes, por suas histórias (adoro histórias do cotidiano, as mais improváveis)... Alguns gênios me transportam para o mundo deles, e de forma meio contraditória me libertam da minha própria realidade, fazendo-me vê-la com mais clareza.

Para mim, Woody Allen é um remédio que me cura de todos os males. Recorro-me a ele sempre, na alegria, na tristeza, na saúde e na doença. E sempre me faz bem. De uma forma surreal, comungo com ele.

Revi um de seus filmes hoje, “Anything Else” (não é um dos seus melhores). Nele Allen apresenta dois argumentos bastante peculiares. O primeiro é sobre terapia. É um posição interessante: muitas vezes, as coisas não tem um porquê, uma origem ou sentido ou uma resposta metafísica. Elas existem simplesmente.

Vou reproduzir o referido diálogo:


“Allen: Escolheu a psicanálise em vez da vida real? Tem problemas de aprendizagem?


Jason Biggs:  Obviamente, não está familiarizado com a psicanálise.


Allen: Errado. Estou totalmente familiarizado. Estelionatários similares tentaram de me enrolar em Payne Whitney.


Jason Biggs: Esteve em Payne Whitney?


Allen: Sim. Um manicômio. Estive no pavilhão psiquiátrico por seis meses, umas férias que não lembro com grande nostalgia. Mas eu era violento. É por essa razão que te colocam em uma camisa de força.


Jason Biggs: O que aconteceu? Por que esteve lá?


Allen: Terminei com uma garota e me indicaram um psiquiatra que disse: "Por que você se deprimiu tanto e fez tudo o que fez?".
Eu disse: "Queria essa garota e ela me deixou".
E ele me disse: "Bem, temos que analisar isso".
Respondi: "Não temos que analisar nada! Eu a queria e ela me deixou".
E ele disse: "Por que tem sentimentos tão intensos?".
Eu disse: "Porque quero a garota!".
Ele disse: "O que há por trás disso?".
Eu disse: "Nada!".
Ele disse: "Tenho que te medicar".
Eu disse: "Não quero medicação! Quero a garota!".
E ele disse: "Temos que trabalhar isso".
Peguei um extintor e o acertei na nuca.
Antes de que me desse conta, uns caras da companhia elétrica  tinham colocado fios de arame na minha cabeça e o resto foi...”

Enfim, identifico-me na sua paranóia, sua obra me compreende. Meio esquisito ou até maluco dizer isso, entretanto consigo dialogar mais com alguns autores e suas obras do que com gente. É assim também com Nelson Rodrigues e com Saramago. A psicologia deve ter um conceito.



Ah, em tempo. Segundo argumento apresentado por Woody Allen: “muita rejeição causa câncer”.

Os corpos

A aurora revelava a lascividade dos atos
Uma junção de cheiro, odor e prazer
Refestelado num banquete
Na simbiose necessária entre os corpos

Já não eram mais dois
O desejo se deliciava
As normas eram os instintos
A conduta, a busca pelo sublime
E a moral, a transcendência  do prazer  !!!

(Graziane Madureira)

Uma ode ao interesse

 Fiz esse texto aos 17 anos para uma aula de filosofia, há uma vida...
Se fosse escrever sobre esse mesmo tema hoje, colocaria coisas diferentes; aprimoraria o discurso.
Mas, esses textos antigos são bons para podermos refletir sobre a nossa própria mutação.



Uma ode ao interesse

Você já parou para pensar no teor de suas relações? Falo aqui de qualquer tipo de relação estabelecida entre os homens. Pois bem, eu pensei! E infelizmente concebi o resultado: os principais dogmas da humanidade: o amor, a fé, a família... só existem no campo hipotético; todas as relações se dão por puro interesse.

Quero deixar claro que a noção de interesse que aqui estabeleço vai além do âmbito material, embora, muitas vezes, este sentido acaba por se tornar na conseqüência do interesse construído no “psikê”.

Não é de minha pretensão negativisar a existência. Mas, não se iluda: qualquer atividade, inclusive aquela de ajudar a um cego atravessar a rua, é banhada por segundas intenções. Esta relação é tão normal que não necessita de nenhum esforço para surgir: nasce instantaneamente do subconsciente, e por nos acharmos imáculos, para além do bem e do mal, só a constatamos, ou queremos constatar, materialmente.

Começarei minha argumentação tomando por base a instituição caracterizada por sua “solidez”, a família. A família nasce da união dos interesses de duas pessoas: os filhos, frutos dessa união, são meros instrumentos. Como não somos gatos, concebemos os filhos com o interesse de projetarmos neles nossos desejos frustrados pelos desejos de nossos pais. Pobrezinhos! Já nascem enraizados num ciclo vicioso. Família unida é sinônimo de que os interesses ainda são comumente compartilhados, ou pelo menos suportados.

Na fé (religiosa) encontramos o grotesco. Desmitifique sua noção de que o indivíduo CRÊ, TENTA seguir uma doutrina religiosa puramente para aproximar-se de “Deus”. O que eles realmente desejam é fugir do purgatório. Como as questões sobre a existência de um “Deus” não são concretas, os homens se apegam às formulações criadas pelos próprios homens por puro medo do desconhecido.

O amor? Ah, este não necessita de tanto latim. Nunca entendi por que os pais eram maltratados pelos filhos quando deixavam de ganhar a matéria que rege a saciedade. As pessoas só amam quando tem o porquê de amar, são aves de rapina que só sabem sugar, sugar e sugar.

Em tudo que olho encontro segundas intenções. Não pense que estas palavras que proferi são diferentes...

Continuando, é possível concluí que a política é tornou-se uma instituição onde é mais “confiável” qualquer relação. Pode parecer surreal, mais é digno de reflexão: na política as pessoas se integram conscientes da relação entre cobras que ali se estabelece. Apesar de não saber sobre o que o outro matuta, o indivíduo presente, primordialmente, já tomou consciência que nesse meio os outros sempre estão planejando algo, enquanto que nas demais relações, as pessoas se inserem sem nenhuma defesa, pois acreditam na pureza da alma humana.

Não quero dar um tom paranóico ao discurso, mas, de vez em quando, lembre-se de desconfiar daqueles que te rodeiam, independentemente do grau de afeto estabelecido, pois o homem está sempre interessado em obter vantagem. Nenhum ato é inteiramente puro, nem complemente sujo. O Bem e o Mal não trilham caminhos distintos; habitam em um único espaço: a mente humana.